terça-feira, 5 de novembro de 2013

Justiça suspende feriado do Dia da Consciência Negra em Curitiba.

Essa semana, uma polêmica decisão suspendeu o feriado do dia 20 de novembro. A justiça tomou essa atitude a pedido da Associação Comercial do Paraná (ACP), as alegações da ACP são as mais diversas: “prejuízo” causado pelo feriado e “excesso de paralisações”, “ausência de sentido” na data e “inconstitucionalidade”. Partido dessa proibição vamos tentar responder, enquanto museu, se o feriado deveria existir? E ainda qual a sua importância para a história geral e do Sitio Cercado?    

Os feriados servem de modo geral são um dia de descanso para a maioria da população e para os trabalhadores, no nosso bairro não seria diferente. O 20 de novembro servira com um dia para exercitar o lazer e com o tempo livre a população, do nosso bairro, poderia parar e pensar na importância dos negros na nossa história. Esse resgate também ajudaria a colocar me evidencia a questão do racismo, que ainda está presente na nossa sociedade.

É por isso que dia 20 de novembro que é lembrado como Dia da Consciência Negra desde a década de 1960 e remete a data em que Zumbi dos Palmares foi assassinado, em 1695. Zumbi era um dos líderes do Quilombo dos Palmares, que era a maior comunidade de negros rebelados contra a escravidão no Brasil. Essa data também seria importante para o Sitio Cercado, pois é um bairro da periferia, região em que  hoje vivem a maioria da população negra de Curitiba. Sendo que a presença da população negra na região vai além da presença física no presente, pois na Fazenda Cercado, que empresta o nome ao bairro, existiram escravos. Isso mesmo existiram escravos em Curitiba! E mais especificamente na região onde hoje é o nosso bairro. Esses elementos estão nos relatos da dona Delzita, filha do Issak Ferreira da Cruz. No acervo e na exposição permanente do MUPE temos fotos dos desentendes desse escravos da família.

Ainda sobre a história do bairro temos nos anos 80 e no 90 a participação no movimento negro na luta por melhorias no bairro. Nesse sentido, colocamos aqui a declaração, feita na Gazeta do Povo, pela Associação Cultural de Negritude e Ação Popular (ACNAP), que criticou a decisão do tribunal, a qual chamou de “racismo institucional” e de “palhaçada”. “O feriado é representativo para reconhecer todo um processo histórico de luta por respeito. Essa decisão foi tomada por uma minoria que não representa a população, mas o poder econômico”

Espero que com esse texto simples tenhamos deixado claro a necessidade do feriado da Consciência Negra em Curitiba, para que de uma vez por todos seja incorporado a história dos negros e dos oprimidos. Um feriado pode ajudar a institucionalizar um momento para que toda a cidade debata o seu passado e não se esqueça que existiu escravidão e que ainda hoje o preconceito permanece, que a população negra do nosso bairro ainda vive cotidianamente.

Para terminar, uma pergunta necessária:  se a ACP acha que temos muitos feriados, por que não questiona outras dadas? Por que a data da Consciência Negra é a que mais incomoda?

2 comentários:

  1. Ótima reflexão, camaradas! Parabéns pela luta da política de memória que recoloca o MUPE nos trilhos da resistência!

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